domingo, 4 de junho de 2017

Querido tempo,


Bom... não sei por onde começar ou nem como terminar. As coisas por aqui não andam fáceis e você anda demorando muito para passar, talvez eu esteja com pressa demais também; nunca fui muito paciente. Como nas outras vezes me sinto perdida, cada vez me sinto mais cansada. Não estou sabendo lidar com coisas que antes eram tão banais, sem importância. Vejo para meus pais e em seus olhos esta a marca da dor sentida e nunca dita, meu irmão tão jovem esta perdendo aos poucos o que resta de sua inocência. Eu não faço nada. É como se não pudesse sentir e demonstrar, como uma estátua que apenas esta ali parada para enfeitar o lugar. E quando me encontro sozinha, as lágrimas rolam soltas por meu rosto. Posso desabar. Sufocar o grito para que ninguém ouça, soluçar baixinho e dormir pelo cansaço. Não me orgulho do que me tornei e nem sei como me tornei isso. Posso culpar as pessoas que me abandonaram em minha infância, culpar amizades que nunca foram confiáveis, culpar a mim mesma por abandonar quem mais precisava. Ou até mesmo as vezes em que cada sorriso ou olhar me iludiu, cada palavra que me fez acreditar que poderia ser possível, cada abraço que jurou que me protegeria das minhas loucas paranoias. Eu me culpo. Me culpo por não ter sido uma neta melhor quando minha avó precisa, me culpo por acreditar demais em pessoas que eram só passagem, por fugir de todas as coisas boas que surgiam no caminho. Culpo meu pai por ser tão duro e frios com suas palavras, te culpo mãe por me usar como escudo muitas vezes quando era menor, te culpo minha querida velha amiga por nunca me falar o motivo de ter ido embora. Te culpo tempo, por deixar marcas que não se apagam, por passar rápido ou devagar demais. Te culpa doença por não saber como se livrar dela. Te culpo fraqueza por me levar a loucura, ao cansaço, à dor... Te culpo querido tempo, por não acabar logo com tudo isso, por não me dar o resto da coragem que falta. Eu sinto muito por sentir tudo.